terça-feira, 30 de junho de 2015

CHICO BUARQUE .....




Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
 Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha
 Que a preferia quente, Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
 Impacientaram-se comigo.
 Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
 Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua.
 Quem sabe o que isto quer dizer? Eu não sei, e foi comigo ... (Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim, Particular ou público, ou do vizinho.
 Sei muito bem que brincarmos era o dono dele. E que a tristeza é de hoje).
 Sei isso muitas vezes, Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram Dobrada à moda do Porto fria?
 Não é prato que se possa comer frio, Mas trouxeram-mo frio.
 Não me queixei, mas estava frio, Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

(Álvaro de Campos)

 Espero que gostem.

Emília Pinto




terça-feira, 16 de junho de 2015

A AUTO DESTRUIÇÃO DA JUSTIÇA





Retirada da net




 À medida que aumenta o poderio de uma sociedade, assim esta dá menos importância às faltas dos seus membros, porque já lhes não parecem perigosas nem subversivas; o malfeitor já não está reduzido ao estado de guerra, não pode nele cevar-se a cólera geral; mais ainda: defendem-no contra essa cólera, o aplacar a cólera dos prejudicados, o localizar o caso para evitar distúrbios, e procurar equivalências para harmonizar tudo (compositio) e principalmente o considerar toda a infracção como expiável e isolar portanto o ulterior desenvolvimento do direito penal.
 À medida, pois, que aumenta numa sociedade o poder e a consciência individual, vai-se suavizando o direito penal, e, pelo contrário, enquanto se manifesta uma fraqueza ou um grande perigo, reaparecem a seguir os mais rigorosos castigos. Isto é, o credor humanizou-se conforme se foi enriquecendo; como que no fim, a sua riqueza mede-se pelo número de prejuízos que pode suportar. E até se concebe uma sociedade com tal consciência do seu poderio, que se permite o luxo de deixar impunes os que a ofendem. «Que me importam a mim esses parasitas? Que vivam e que prosperem; eu sou forte bastante para me inquietar por causa deles...» A justiça, pois, que começou a dizer: «tudo pode ser pago e deve ser pago» é a mesma que, por fim, fecha os olhos e não cobra as suas dívidas e se destrói a si mesma como todas as coisas boas deste mundo. Esta autodestruição da justiça, chama-se graçae é privilégio dos mais poderosos, dos que estão para além da justiça


. Friedrich Nietzsche, in 'A Genealogia da Moral



Não é o retrato da nossa justiça?  Está a ser, sim, " um privilégio dos mais poderosos, dos que estão para além da justiça "


Emília Pinto

terça-feira, 2 de junho de 2015

ESCOLA DA INTELIGÊNCIA



Amigos, gosto muito dos livros deste senhor e não é a primeira vez que o trago ao Começar de Novo

. Espero que gostem e deixem aqui a vossa opinião.

 Muito obrigada

 Emília Pinto