quinta-feira, 19 de junho de 2014

CHICO BUARQUE - 70 anos!






Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
 Manhã parece, carece de esperar também
 Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
 Pedro pedreiro fica assim pensando

 Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
 Esperando, esperando, esperando Esperando o sol,
 esperando o trem Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
 Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
 Manhã parece, carece de esperar também
 Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
 Pedro pedreiro espera o carnaval
 E a sorte grande do bilhete pela federal
 todo mês Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
 Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
 Esperando a festa, esperando a sorte
 E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
 Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
 Manhã parece, carece de esperar também
 Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
 Pedro pedreiro tá esperando a morte
 Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo Espere alguma coisa mais linda que o mundo
 Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá O desespero de esperar demais
 Pedro pedreiro quer voltar atrás Quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
 Esperando, esperando, esperando
 Esperando o sol, esperando o trem Esperando aumento para o mês que vem Esperando um filho prá esperar também
 Esperando a festa, esperando a sorte Esperando a morte, esperando o Norte Esperando o dia de esperar ninguém
 Esperando enfim, nada mais além Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
 Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
 Que já vem Que já vem Que já vem...



Um dos mais importantes nomes da música popular brasileira, Chico Buarque completa 70 anos nesta quinta (19). Quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim, ele nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1944, e desde muito cedo demonstrou interesse pela música.

 O seu primeiro disco foi Pedro Pedreiro- gravado em 1965

 Emília Pinto

terça-feira, 10 de junho de 2014

OFERECER



 Quando você for para o trabalho, para a faculdade, para uma balada, não vá com uma postura de buscar algo, conseguir algo, sugar algo do local ou das pessoas. Vá para oferecer, vá para gentilmente entregar às pessoas as qualidades de sua simples presença. Ofereça qualquer coisa. Um olhar profundo já é muito hoje em dia. Vá para os lugares e apenas treine olhar tudo com um olhar de abismo. Muitas pessoas precisam só disso: serem olhadas, contempladas suave e lentamente, reconhecidas em subtil, tocadas de alguma forma e conectadas com um outro que as transcende e reacende o mistério que as faz viver. No momento em que se coloca em uma posição mendicante, você adentra um mundo de carência, sente-se incapaz de oferecer algo aos outros e termina com um olhar que suga e enfraquece a energia de qualquer um ao seu redor. Ao final do dia, você continuará insatisfeito e certamente terá construído relações patológicas com os seres, baseadas em sua carência. Por outro lado, se adotar uma postura expansiva e radicalmente aberta, oferecendo sua existência ao deleite dos outros, você age reconhecendo que não tem nada a perder. Não há medo nem hesitação em seu olhar. Sem esperar ou exigir nada dos outros, você age desimpedidamente, em uma dança subtil em meio às situações. Qualquer solidez ou bloqueio é atravessada por sua leveza e transparência. Qualquer obstrução é liberada pela presença da sua espontaneidade. Você apenas sorri e faz todos sorrirem, ou ainda: você cria o espaço para que todos possam sorrir. Seu olhar sequer vem de seus olhos. É não-local, surge em qualquer olho, surge do espaço entre os seres, dos rizomas que os transpassam. Você age sem estratégias e cria um raro ambiente no qual cada pessoa se sente livre para igualmente abandonar suas estratégias e apenas ser. Isso é um alívio para qualquer um. Quando nos apresentamos como mendigos, quando pedimos por algo, tudo nos é insuficiente, ralo, pouco. No fundo, estamos fechados e por isso acabamos não vendo o que há, sem perceber os tesouros de cada lugar, de cada ser, de cada evento. É o coração contraído que suplica, que pede, que suga. Quando vamos sem nada pedir, estamos abertos. Tudo nos arrebata. Tudo já é demais e nos enriquece imediatamente. A qualidade viva das coisas faz nossa visão transbordar de luminosidade. Ao final do dia, brotará em você uma alegria sem causas, não condicionada. Não há frustração ou insatisfação. Você apenas deu o seu melhor e sente-se em paz.
Não interessa se alguém notou, se recebeu elogios ou se você foi completamente ignorado. Você ofereceu toda a sua profundidade. Não há presente maior que um homem possa dar.


 By Gustavo Gitti     in BEM- ESTAR-JUNTOS



Oferecer a nossa profundidade é o melhor presente que podemos dar a alguém e....custa tão pouco...

Emília Pinto